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Nascida no dia 21 de julho deste ano com apenas 23 semanas de gestação e 600 gramas de peso, Luísa Vitória Alves Xavier é um caso raro entre os bebês prematuros brasileiros.
— O exame neurológico dela é perfeito. É muito raro um bebê de 23 semanas no Brasil sobreviver sem sequelas, mesmo em hospitais mais modernos que o nosso — afirmou a médica Isabel Marshall, chefe da UTI neonatal do Hospital Presidente Vargas, em Porto Alegre.
Depois de quatro meses e meio internada, Luísa recebeu alta ontem e foi recepcionada em casa, na capital gaúcha, com festa e emoção.
— Hoje é o dia mais feliz da minha vida. É como nascer de novo — disse a mãe, Cassiane Oliveira Alves, de 28 anos, no quarto decorado em rosa e roxo, enquanto embalava a filha, hoje com 2,2 quilos.
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Luísa sobreviveu e, por isso, ganhou Vitória como segundo nome no lugar do previsto Fernanda, que seria uma homenagem ao avô, Fernando, pai de Cassiane. Ele mesmo sugeriu a mudança, orgulhoso da luta que uniu a família nos últimos meses.
Luísa é uma exceção
A médica Isabel Marshall destaca o envolvimento da família e a dedicação da equipe como decisivos para o sucesso da recuperação.
— Temos recursos materiais limitados, mas nossos profissionais são muito qualificados. O atendimento humanizado dá confiança à família, que consegue participar mais do cuidado com o bebê prematuro — comenta Isabel.
Cassiane chegou ao hospital com um sangramento no dia 17 de julho. Resistiu por quatro dias, alertada pelos médicos sobre os riscos de um parto tão prematuro.
Durante o período em que Luísa esteve internada, Cassiane viu outras mães perderem seus filhos, bebês com malformações chegarem à UTI e enfrentou todo tipo de complicação ao lado da filha, tendo de aprender a conviver com termos médicos como queda de saturação e retinoplastia da prematuridade, até o dia em que ajudou a apertar os botões das incubadoras quando houve uma queda de luz no hospital.
Nas últimas duas semanas, com Luísa já fora da UTI, começou o processo de adaptação da menina para se alimentar sem a sonda gástrica e poder, finalmente, voltar para casa.
O pai, Sérgio Xavier, de 31 anos, não pôde se ausentar do trabalho em uma empreiteira de pintura durante a tarde, mas tratou de chamar toda a vizinhança para a festa de boas vindas à noite.
A recepção foi calorosa: mais de 20 pessoas se aglomeravam ao redor de Luísa, entre familiares e amigos.
Evolução da medicina permite vitórias como a de Luísa
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros (antes de 37 semanas) no mundo. O Brasil aparece na 10ª posição em números absolutos, com 279,3 mil partos de prematuros por ano, ou 9,2% dos partos. Graças ao desenvolvimento da medicina, nascidos prematuros têm hoje mais chances de sobrevida do que décadas atrás.
Respiradores mais modernos e delicados, que causam menos lesões ao pulmão do recém-nascido, e incubadoras mais sofisticadas, capazes de manter acústica, luminosidade e temperatura mais semelhantes ao ambiente da barriga da mãe, são alguns dos equipamentos citados pelos médicos.
Medicamentos também têm sido decisivos. O surfactante pulmonar é um exemplo. Aplicada diretamente na traqueia do prematuro, a substância ajuda o pulmão do bebê a se desenvolver e começou a ser utilizada no Brasil somente nos anos 1990. Outra medida, também para o desenvolvimento do sistema respiratório do bebê, é o uso de corticoide na mãe, antes do parto.
Para poder sair do hospital, a criança deve ter o peso e as condições correspondentes à idade corrigida, ou seja, contada a partir da 40ª semana, somados os períodos de gestação na barriga da mãe e na incubadora. E os cuidados não cessam depois da liberação.
— Sobreviver na UTI não significa sobreviver depois, é preciso investir também no acompanhamento hospitalar após a alta — frisa a neonatologista Rita de Cássia Silveira, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e chefe do ambulatório de prematuros do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
No Hospital Presidente Vargas, os nascidos prematuros recebem acompanhamento ambulatorial até os 10 anos de idade.
O que faz de Luísa uma vitoriosa
:::: Segundo a médica e professora da UFRGS Rita de Cássia Silveira, até 15 anos atrás, um nascimento com 24 semanas era considerado aborto pela Organização Mundial da Saúde.
:::: Atualmente, a OMS considera bebês prematuros aqueles que nascem no período gestacional entre 22 e 37 semanas. No entanto, entre 23 e 24 semanas se encontra o período de pré-viabilidade, conforme o obstetra José Geraldo Ramos, também professor da UFRGS.
:::: Segundo Ramos, a taxa de mortalidade entre nascidos com 23 semanas gira em torno de 80%. Com 29 semanas, a chance de sobrevida aumenta para 90%.
:::: O risco de sequelas em casos de prematuridade extrema é alto. São comuns problemas de visão, audição, locomoção e dificuldade de aprendizado.
:::: Um estudo publicado este ano no jornal médico Pediatrics, feito pelo pediatra e professor de neonatologia Jonathan Muraskas, do Centro Médico da Universidade de Loyola, nos Estados Unidos, aponta que a idade gestacional é mais determinante para a saúde futura de um bebê prematuro do que o peso no nascimento.
:::: Com 23 semanas, os sistemas do feto ainda não estão maduros. Intestinos e glândulas como pâncreas e tireoide ainda não se formaram. A pele ainda é gelatinosa e muito sensível. O sistema nervoso central só estará maduro com 28 semanas. E a capacidade pulmonar só estará estabelecida por volta da 35ª semana.
Fonte: ZERO HORA
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